quinta-feira, 15 de abril de 2010

Alucinações

Olhei para um lado, depois olhei para o outro.
Te encontrei pelo olhar.
Teu olhar cruzou com o meu, estremeci, me faltou ar.

Consegui voltar a respirar, mesmo que não normalmente.
Minhas mãos suavam, minha testa transpirava.
Tentei esboçar algo, você me sorriu calmamente.

Aos poucos percebi que não estávamos sozinhos.
Mas você transparecia solidão.
Queria me aproximar.
Minha mente dizia que não.

Notei que você estava mais perto.
Meu coração palpitou.
Senti meu ar parar.
O que era antigo, a ser novo voltou.

Lembrei o que sentia realmente.
Era algo grande, às vezes acho que único.
Recordei o que você me falou na última vez.
Sentimos o mesmo, algo diferente.

Abaixei meu olhar e pisquei rapidamente.
Passei as mãos pelos meus cabelos, suspirei.
Ao te procurar mais uma vez pude perceber.
Você havia ido, pensei.

Busquei o restante do contexto e percebi.
Você não estava ali.
Doeu meu coração.
Minha diária alucinação.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Velha Infância

Ir para Aldeia:

Nadar na piscina, tomar banho de bica, pegar girino, correr de sapo e rã, brincar de gato mia, jogar dominó e baralho, pular do trampulim, escorregar no corredor entre as piscinas, brincar de nó dentro d´agua, fazer trilha pela mata, contar e ouvir histórias de terror, brincar de casinha, brincar na casa abandonada, andar de bicicleta de rodinhas nas laterias, tomar banho de mangueira, dormir em bicama, ir dormir de madrugada, ir dormir ao som de grilos e sapos, acordar tarde, acordar ao som dos passarinhos, ir à casa do vizinho mexer nas coisas dele, dormir em rede, fazer novas amizades, correr de um cachorro gigante, jogar volei e paredão, festas de aniversários, ver muita tv, tomar banho com medo das rãs, brincar de escalar as rochas, descobrir trilhas novas e lugares novos no meio do mato, ir andar à noite, ir à bica a noite, tomar banho nua na piscina, ir até o olho d´agua, morrer de medo de deparar com uma cobra, comer besteira, se abaixar dos besouros durante o café, fazer o carro da bárbie descer com tudo pela ladeira, descer correndo da ladeira, se arranhar, chorar de raiva da prima maldosa, tomar muita coca-cola.

Ir para Tamandaré:

Tomar banho de mar a qualquer hora do dia, nadar até muito fundo, subir na lancha dos outros, se queimar com água viva, fazer xixi na água, ter medo de tubarão, ir de lancha até as piscininhas, ver o mar batendo na parede ao encher, andar até depois da ponte, andar até a casa dos amigos dos meus tios, andar até as piscinas naturais sem dizer a ninguém e levar uma bronca ao voltar, quase perder a cachorra que fugiu, tomar banho de chuveirão, brincar de barra bandeira e esconde-esconde com os primos, levar as amigas para viajar, escalar as pedras e o muro dos outros quando o mar tava cheio, escutar histórias de terror sobre o vizinho morto, brincar com os vizinhos, ir para a casa dos vizinhos, acordar com o som alto do vizinho, axé, carnaval, serpentina e confente, dominó, televisão sem antena boa, cama de cimento, subir e descer das camas, andar pelo muro, correr pelo corredor até o quintal, jogar volei e paredão, jogar queimado, amassar as uvinhas do mar, pegar sargasso mesmo tendo nojo, amassar babosa e passar no cabelo da boneca, fazer narizinho com o 'coisinha' da flor, ficar sem biquine ao ser roubada, ir comprar outro novo na cidade, comprar pão, ver acidente e ficar traumatizada, subir no pé de manga, chupar manda se melando inteira, ter medo do tarado, ano novo, voltar sozinha do hotel até em casa no escuro, os cachorros do vizinho, grama, mangueira, coração de nego, rede, comer muita besteira.

'A infância é a melhor fase do homem. Não existe maldade, não existe injustiça. É só alegria, sinceridade, ingenuidade e amor. Muito amor. Que saudade da minha velha infância que só volta nas lembranças. Nas melhores lembranças de uma época em que eu era plenamente feliz'.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Minha terapia...

Há muito eu descobri que a maior das terapias para mim era escrever. Escrever qualquer coisa que fosse. Se eu estava em um dia ruim, pegava um papel, ou ao menos um pedaço de um, uma caneta, ou um lápis, ou até quem sabe, por que não, um hidrocor e começava a colocar diversas ideias no papel.

Sempre, desde que aprendi a escrever, tive diários. Neles descrevia meus dias, minhas horas, meus minutos. Tudo o que eu havia feito de grandioso ou pelo menos o que eu tinha almoçado. Era um dos momentos mais felizes do meu dia, a hora que eu lembrava de tudo e escrevia. Muitas vezes eu descrevia o que gostaria que acontecesse comigo, vou admitir que quase nunca aconteciam mesmo, mas era divertido.

O mais engraçado de tudo, é reler meus antigos diários e ver como eu era, como eu me sentia, como eu queria ser realmente, e ver que consegui muitos dos meus anseios, ao mesmo tempo que desisti de muitos. É bom ver o quanto eu mudei, o quanto amadureci naturalmente, sem esforços, simplesmente, aconteceu. Não sou mais aquela garotinha gordinha, buchechuda (ok, o buchechuda continua e muito), de cabelos castanhos e encaracolados que sonhava em aprender a andar de bicicleta sem rodinhas dos lados (ok, eu ainda tenho muita vontade de aprender). Me transformei, mudei e muito! Meus sonhos mudaram, meus anseios são outros, minha vida é outra.

Admito também que muitas coisas do passado ainda despertam em mim uma grande admiração e vontade de voltar, ser de novo aquela menininha. Queria ter realizado mais sonhos quando menor, queria continuar sonhando igual a quando eu era pequena. Ser criança é a melhor coisa do mundo! Disso eu tenho plena certeza! Mas o tempo passou e agora sou outra Alissa. Às vezes quem eu sou odeia quem eu me tornei, cada vez mais. Mas, assim como eu, o mundo também mudou, e às vezes o culpo por eu ser quem eu me tornei. Mas calma! Não sou uma pessoa ruim, nunca matei nem se quer um sapo! Por mais que tenha sido testemunha de um assassinato do tipo. A queima roupa! Não gosto nem de lembrar. Foi nojento.

Hoje sou uma mulher (mesmo com cara e, muitas vezes cabeça e comportamento de menina, e sabe do que mais? eu adoro ser assim e pra sempre vou ser assim, isso se o mundo não me mudar ainda mais), ruiva, de cabelo liso, ainda um pouco acima do peso (mas já estou trabalhando nisso, como sempre) e que sonha. Sonha muito! Sim, tenho sonhos eróticos também, mas não era desse tipo de sonhos que eu estava me referindo ao iniciar esse assunto. Tenho sonhos grandes, eu sonho alto, muito alto. Dizem que quanto mais alto se sonha, maior a queda. Eu penso diferente, para mim, quanto maior os seus sonhos, é aí, exatamente aí, onde você vai chegar. E eu vou chegar, e quem não acreditou, vai estar bem longe, tentando entender como eu consegui tanto. Eu respondo: eu posso.

Uma coisa interessante em mim é que eu gosto de escrever e sonho muito. Poderia juntar isso e dar certo. Mas não, nunca escrevi sobre meus anseios. Nunca coloquei no papel mesmo tudo o que sempre sonhei. Os sonhos são meus, e eu os quero onde eu, e somente eu, os possa ver e sentir. Meio egoísta, eu sei. O que eu gosto mesmo de escrever é o que aparece na minha mente a qualquer momento. Minha mente viaja, e a qualquer hora vem uma nova ideia diferente, e eu a guardo até poder soltá-la.

Estou quase terminando mais uma de minhas histórias. Estava parada nessa há muito tempo. Escrevia, mas pouco. Nunca conseguia seguir um fio, sem desequilibrar. Hoje foi o dia. Consegui desenvolver e estou quase terminando! E ela ficou muito melhor do que eu esperava e do que eu tinha imaginado para ela. Essa sou eu. É assim que sou na minha vida... Começo de um jeito, com o final pronto e amarrado, mas sempre acabo escapando do concreto e faço até o que Deus duvida. Eu faço loucuras, mas ninguém sabe.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Estou cansada...

Ah, como foi rápida. Já chegou ao fim, minha primeira hisória aqui. Para quem acompanhou e gostou, agradeço e digo que logo mais, outras historinhas estarão por aqui.
Mas agora vamos conversar um pouco...

(...)

O trabalho dignifica o homem.
Concordo.
Mas o que ninguém pensou é que cansa e muito o homem também.
Para quem não sabe eu tenho 21 anos e estou no penúltimo período da faculdade de jornalismo. Falta menos de um ano para que eu me livre do que me consome por quase quatro anos. Durante uma faculdade, o que os estudantes mais procuram é um estágio, não para ganhar experiência, mas sim, para dizer: 'agora tenho responsabilidades, pai!'

Eu demorei. Somente agora no penúltimo e derradeiro período arranjei um estágio.
Todos os meus amigos já tinham os seus e viviam me dizendo: 'Alissa, tá na hora de arranjar um emprego po!' E eu pensava: 'Droga ¬¬' O fato é que minha hora chegou. E chegou com tudo, afinal agora eu tenho dois estágios.
Tudo bem, eu concordo que eu tava precisando de um pouco mais de responsabilidade na minha vida.. mas em dobro? É castigo!
Agora mesmo estou aqui em um deles, louca, cheia de coisas para fazer, sem a minha chefe (que viajou para os E.U.A) e além de tudo com um trabalho FDP da faculdade para apresentar AMANHÃ!

O tempo que era meu forte há um mês atrás, agora é raro. Tempo livre, quero dizer, por que o tempo continua o mesmo, já o tempo ocioso... É pouco, bem pouco.
Finalmente, nesse final de semana eu consegui arranjar um bom tempo para rever meus amigos. Fazia um bom tempo que não saía com eles.
Sábado fui comer sushi com eles. Conversamos bastante, brincamos, falamos bobagens como era de costume antigamente, bebemos, rimos muito. Ah como é bom!
No domingo fui ao cinema com outro grupo de amigos que fazia muito tempo que não os via também, até mais. Assistimos Uma noite fora de série e eu ri demais! Depois conversamos, rimos, brincamos, comemos, nos divertimos juntos, como também era de praxe há um tempo atrás.

Mas sabe quando você mesmo se divertindo quer voltar logo para casa e se jogar na sua cama para dormir e relaxar? Foi o que me aconteceu esses dois dias. Quando cheguei em casa, tomei um belo banho, entrei por menos de 10 minutos, nesse meu vício que atende pelo nome de internet e me joguei na minha cama. Estava tão cansada que demorei bastante para adormecer, mas quando consegui, só me acordei no outro dia, depois do meio dia.
E para que? Para mais uma semana de trabalho e estresse.

Me sinto muito dignificada com meus traballhos, mas muito mais que isso, me sinto muito, muito mesmo, cansada.

domingo, 11 de abril de 2010

Enfim um lugar para chamar de seu

Nosso passado é nossa história e nossa história faz parte de nós. Não podemos nos desfazer do que passou, o que foi ruim, tentamos, mas nem sempre conseguimos esquecer, passar uma borracha. O que é bom, mesmo que já tenha mesmo passado continua na gente, como uma tatuagem que não se pode tirar, não se pode apagar. O sofrimento deixa cicatrizes, às vezes, irreparáveis, mas quem não pode viver com uma cicatriz? Todos podemos. Por maior ou dolorida que seja, todos temos força suficiente para contornar os medos, as dores e as ilusões do passado, mesmo que essa força seja desconhecida por nós mesmos, chega um momento em que nos damos conta o quão somos fortes e de quanto podemos ser felizes mesmo com os apesares.

(...)

- Eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.

Guilherme se aproxima de Marcela calmamente, se olhavam quase que hipnotizados, sorriam, estavam realizados, agora eram casados, o sonho de Marcela estava se realizando enfim.
Beijavam-se calmamente, desfrutando como podiam daquele momento que ambos tanto esperaram. Com um selinho carinhoso e demorado eles se separaram, cruzaram os dedos de suas mãos e sorriram. Olharam para trás e abriram sorrisos maiores ainda ao ver os amigos sorrindo, batendo palmas e festejando, sendo testemunhas daquele ato de amor.

(...)

Guilherme não tirava os olhos da mulher ao tirar lentamente seu vestido de noiva.
Já haviam estado juntos muitas vezes, durante o namoro e o noivado, mas aquela vez, definitivamente era diferente. Saudade, felicidade estavam misturados com outros milhares de sentimentos que ambos estavam sentindo. Agora eram casados, eram marido e mulher. Tinham um laço muito mais forte e indestrutível agora.
Se beijavam a todo momento. As bocas se acariciavam em plena sintonia, assim como as mãos tocando das partes mais comuns às mais sensíveis do corpo um do outro.
Juras de amor eram ditas durante grande parte do tempo, promessas de amor eterno eram expressadas das maneiras mais românticas e apaixonadas possíveis.
Guilherme entra em Marcela lentamente, aproveitando cada segundo daquele momento, o momento em que os sentimentos de amor e prazer misturavam-se, formando um só.
Os movimentos eram delicados. Mordidas, chupadas, lambidas também não ficaram de fora daquilo. Com o tempo, os movimentos ganhavam mais intensidade e eram acompanhados de gemidos de prazer de ambos, até chegarem ao ápice juntos.

- Eu te amo, Marcela.
- Eu te amo, Guilherme.

Guilherme separa seu corpo do de Marcela, vai até o banheiro e logo volta, se deitando ao lado da ruiva que sorria de orelha a orelha.

- Está feliz?
- E você ainda me pergunta? Só Deus sabe o quanto eu esperei por esse momento. Poder te chamar de meu.
- Sempre fui seu.
- Meu marido.
- Minha mulher.
- Te quero pra sempre!
- Pra sempre!

Eles sorriem e dão um selinho demorado.

- Te disse que ficou maravilhosa com o cabelo ruivo?
- Não disse não...
- Pois estou dizendo agora. Esta linda, pequena!
- Obrigada, meu amor.

Ficaram se olhando um pouco, sorrindo. Marcela dá outro selinho em Guilherme e deita sua cabeça no peito do marido, que começa a fazer carícias nas costas dela.

- Las Vegas...
- Nem acredito que você realizou mesmo meu sonho de tantos anos atrás.
- Eu prometi, não prometi?
- Mas que moraríamos aqui não.
- Você não sonhava com isso antes.
- Não mesmo. Mas agora, pra mim é importante.
- Se é importante pra você, é pra mim também. Las Vegas é nossa nova casa!

Marcela finalmente conseguira se sentir completa, realizada. Estava com a pessoa que amava ao seu lado. Guilherme era seu, seu marido, seu amigo, seu amante, seu tudo! E ela era tudo dele também. Enfim, podia dizer, gritar ao mundo, a quem quisesse ouvir que estava feliz, que era uma mulher feliz e mudada!
Sempre acreditara que o Brasil seria sua casa até o fim, sempre ansiou isso, mas o destino, a vida, lhe mostraram que às vezes é preciso mudar e mudar muito, no caso dela até de país para encontrar o que lhe completa totalmente...
Finalmente tinha encontrado seu lugar, o lugar que definitivamente podia chamar de seu.

FIM

sábado, 10 de abril de 2010

Antigo recomeço

- Por que sumiu desse jeito?
- Precisava encontrar um lugar pra mim.
- Dois meses, Marcela! Por Deus, imaginei tantos absurdos! Cheguei a chorar sua morte!
- Também chorei a sua morte.
- Ainda tão ressentida comigo? Já te expliquei tudo.. Por favor, me entende! Eu também sofri todo tempo que ficamos separados e mais ainda, estava doente, Marcela!
- Poderia ter dividido isso comigo! Mas preferiu encontrar outra para dividir isso.
- Marcela, eu só queria o seu bem! Sei que errei, eu já sei! Mas te peço perdão! Quero recuperar o tempo perdido. Recuperar nosso amor, que eu sei que não acabou e nem vai acabar assim.
- Sofri tanto sem saber de você.
- Estamos quites.
- Não me interessa isso. Só quero que vá embora e me deixe em paz.
- Terminei com a Jenny.
- Co-como?
- No outro dia que você foi embora, terminei com ela.
- Não fez o certo.
- Fiz sim. Até ela sabe disso. Ela sabia, Cela.. Sempre soube que quando você aparecesse novamente, quando eu te encontrasse de novo, eu e ela acabaríamos. Na verdade, nunca existiu eu e ela. Sempre fui eu e você. Ela foi mais uma amiga que qualquer outra coisa.
- Como estão os outros?
- Há duas horas atrás estavam preocupados com você, mas agora, sabem que você ao menos esta viva.
- O que faziam no cassino?
- Viemos à Las Vegas procurar você.
- Como sabiam que me encontrariam aqui?
- Não sabíamos! Pelo menos não tínhamos certeza.
- Por que me procurar justo aqui?
- Lembra de uma conversa que tivemos que eu te prometi que nossa lua de mel seria aqui? Que eu realizaria seu sonho?
- Isso faz tanto tempo...
- Mas eu nunca esqueci, por que eu pretendia realizar isso.
- Pretendia mesmo estando noivo de outra?
- Pedir Jennyfer em casamento foi um erro, eu sei. Foi por impulso, por estar contente por estar curado e ela ter sido parte fundamental na minha cura. Desculpe-me.
- Não quero mais falar disso.
- Me perdoa?
- Sim, Guilherme. Eu te perdôo.
- De verdade?
- Sim. Vindo até aqui provou que fala a verdade.
- Nunca mentiria pra você, Marcela. O que eu falo é a mais pura verdade, só não te contei do meu câncer por que queria te proteger, não queria te ver sofrer, te prender a mim, que não tinha um futuro certo.
- Eu te amo, Guilherme, sempre te amei. Sempre estaria ao seu lado, acima de tudo, de qualquer coisa. Você era a pessoa mais importante pra mim, a pessoa por quem eu mataria e morria. A pessoa que eu mais amei em toda a minha vida. A pessoa que eu sonhava em casar, ter filhos, cuidar quando ficássemos velhinhos e morrer juntos.
- Você sempre foi isso tudo pra mim, Marcela.. Sempre! Era com você que eu queria terminar meus dias. É com você que eu quero.
- Eu senti tanto a sua falta.
- Eu quase morri de saudades de você, minha pequena.
- Promete que nunca mais vai me deixar sozinha.
- Te prometo. Nunca mais te deixarei sozinha! Nunca mais!
- E que nunca mais vai me esconder nada!
- Nunca mais! Prometo. Te amo!

Não era preciso dizer mais nada, apenas um beijo faltava para selar aquele momento único. Marcela havia conseguido o que queria. Recomeçar. Sim, mesmo voltando à um amor do passado, ela havia recomeçado.

continua...

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Enfim sós

- Garçom! Com licença! Você conhece uma garçonete ruiva?
- Claro que sim.
- Como ela se chama?
- Celinha..
- Celinha... Claro... Ela não usaria Marcela, seria fácil demais.
- O que disse senhor?
- Nada... Mas então... Onde posso encontrá-la?
- Celinha acabou de ir embora.
- Como?
- Disse que não estava passando bem, pediu ao gerente para sair mais cedo e se foi.
- Sabe onde ela mora?
- Não, senhor... Perdão, mas... Por que tanto interesse nela?
- Er... Er... Fiquei de lhe dar uma gorjeta, mas ela sumiu.
- Aqui somos proibidos de receber gorjetas, senhor.
- Ah, mas vocês nunca recebem?
- Ah... O senhor sabe. Quando o cliente insiste muito...
- Entendo. Quanto quer para me levar ate a Cela... Celinha! Quanto quer para me levar até a Celinha?
- Já falei pro senhor que não sei onde ela mora...
- Mas pode descobrir pra mim, não pode?

Guilherme depositara no bolso do garçom diversas notas de alto valor, discretamente.

- Me acompanhe, por favor.

Ele e o garçom foram até uma sala, afastada dos jogos ou do bar do cassino. Guilherme se sentou em um sofá negro e de aparência antiga, enquanto o garçom entrara em uma outra porta.

(...)

Marcela chegara em sua casa tão transtornada por quem havia visto que nem trancou porta, nem nada. Foi ao banheiro, lavar o rosto, tirar aquela maquiagem carregada. Tomou um banho rápido, escovou os dentes, trocou de roupa, colocando sua camisola branca de seda e voltou ao quarto. Ligou a televisão e se deitou na cama, pensativa.

(...)

Por mais alguns dólares o garçom levou Guilherme até o apartamento em que Marcela morava e se foi. Agora era com ele. Ele e ela.

Era um prédio simples, nem ao menos portaria tinha. Cada morador tinha a chave do portão e pronto, imaginou ele. Mas esse se tornara um problema. Como ele entraria se o portão estava fechado? Ou pelo menos era para estar, pensou ele ao perceber que estava apenas encostado.

- Obrigado, Deus!

Guilherme entrou no prédio, sem pressa, porém com cautela, nada o podia impedir de ver e falar com Marcela naquele momento. Nada, nem ninguém!
O apartamento de Marcela era o 203. Chegou na frente da porta e começou a ensaiar milhares de maneiras de falar com ela e principalmente de como fazer uma voz diferente da sua original para que ela o deixasse entrar, sem medo.
Estava nervoso. Encostou-se levemente na maçaneta e a sentiu girar, era muita sorte para um dia só. Sim, estava aberta.

- Que perigo, dona Marcela! Ainda bem que sou eu!

Entrou devagar, sem fazer barulho, ‘andando em ovos’, fechou e trancou a porta. Suspirou, respirou fundo, ofegou e foi caminhando pela casa. Chegou à cozinha e nada, ate a varanda, menos ainda, então foi indo até um lugar que imaginou que fosse um quarto.
A porta estava aberta, a televisão ligada, a luz de um abajur também, olhando de esgoela, pode ver pernas na cama, olhando melhor pode ver todo um corpo deitado e claro, aqueles inconfundíveis cabelos vermelhos esparramados em um travesseiro branco. Não pode deixar de ouvir também um soluço.

(...)

Marcela pensava, pensava e só conseguia chorar. Chorar de emoção por ter revisto seus amigos, ter visto Paulo tão cara a cara, mesmo sem tê-lo abraçado como seus instintos mandaram, ter visto, principalmente, Guilherme. Seu tão antigo e tão recente amor, que queria esquecer, mas não conseguia. Era muito mais forte que ela.

(...)

Levado por toda coragem que conseguira juntar, Guilherme entra no quarto. Não conseguia para de olhar para a moça que estava deitada. Se aproximou mais, e mais, até chegar ao lado da cama, podendo ver que ela estava de olhos fechados, com uma expressão dolorosa na face e com o rosto molhado, estava chorando. Aquela visão tão ímpar dela, só comprovou visualmente o que ele já sabia: Marcela! Havia encontrado Marcela.

- Marcela...

Marcela ouvira um sussurro. Estava sonhando, imaginava ela. Não havia ninguém ali, tinha fechado a port... A PORTA! Ela não havia fechado a porta! Se levantou de um pulo, sentando na cama e quase caindo deitada novamente quando seu olhar se encontrou com o que não parava de encara-la.

- O que... O que.. O que faz aqui? Quem deixou você entrar?
- Marcela, por que fugiu?
- Saia!
- Não posso acreditar que te encontrei.
- Não sei do que esta falando. Saia do meu apartamento ou chamarei a polícia!
- Teria coragem? De mandar me prender?
- Não o conheço, teria sim!
- Não precisa fazer esse teatro aqui. Você sabe que eu sei que é você. Não tem como esconder. Mesmo com os cabelos vermelhos, aquela roupa que usava no cassino, sua voz não me confunde, Cela. E seu rosto muito menos.
- Vá embora, Guilherme.

continua...