sábado, 3 de abril de 2010

Um erro pode mesmo ser concertado?

Guilherme estava imóvel. Não podia acreditar no que seus olhos viam. Não era possível. Marcela? Marcela na sua frente de novo... Não podia ser.

- Marcela?
- Vim te parabenizar pelo noivado, Guilherme.
- O que faz aqui?
- Sinto muito, muitíssimo ter vindo aqui. Mas já que estou, só tenho que te felicitar. Esta noivo... espero que dessa vez, leve esse noivado a sério.

Marcela saiu do escritório tremula, podia sentir todas as lagrimas que caiam em seu rosto. Queria falar poucas e boas para Guilherme, queria bater nele, xingá-lo, mas não voltaria. Não queria mais vê-lo, queria que ele morresse de verdade, e não apenas em seus pensamentos.

- Marcela, espere!
- Pra que me trouxe aqui, Flávio?
- Eu não sabia... ele acabou de me contar, como você deve ter ouvido.
- Ele esta noivo, Flávio. NOIVO! Como pude ser tão idiota. Ter chorado tanto por um infeliz como ele!
- Marcela você ouviu a conversa desde o inicio?
- Só o ouvi dizendo que estava noivo.
- Então precisa saber de tudo!
- Não chegue perto de mim, Guilherme. Quero que morra. QUE MORRA!
- Seu desejo quase virou uma ordem... precisamos conversar.
- Não tenho nada pra falar com você. Vim aqui porque Flávio insistiu muito, mas agradeço a ele por ter me feito ver a imbecil que fui esse tempo inteiro.
- Eu tinha câncer, Marcela.
- O que?

Flávio e Jennyfer vão para dentro da casa, Marcela e Guilherme precisavam ficar sozinhos.

- Vim para Suíça me tratar de um câncer na bacia que estava para me matar. Não achou que te deixei no Brasil, sem explicação nenhuma por nada não?
- Não pensei em nada... só em como eu queria te ver morto.

(...)

- Ela é a Marcela, não é?
- Sim...
- O grande amor dele.
- E ele, o grande amor dela.
- Só aceitei me casar com ele por que o amo, mas sabia, sempre soube, ele sempre deixou claro que nunca me amaria como eu o amo, pois seu coração sempre foi dela.
- Sempre fui apaixonado pela Marcela. Mas sempre soube também do amor deles dois.
- Guilherme me contou da conversa que tiveram antes dele decidir vir para cá. Ele só veio por causa da conversa. Já o tinha convidado a mais tempo, para se tratar, mas ele nunca quis deixá-la.
- Me sinto mais culpado ainda.
- Não se sinta. Aqui ele teve o melhor tratamento possível. Se curou por isso.
- Ela sofreu demais sem ele, e ainda está sofrendo.
- Sinto que sofrerei o que ela sofreu.
- Não exatamente... ela sofreu mais.
- Sim... é verdade, mas...
- Eles farão as pazes, Jennyfer.
- E eu serei obrigada a abrir mão dele, para ela.
- A escolha é dele.
- Não tem escolha. Só há escolha quando há duas opções e pra ele a única é ela. Sou carta fora do baralho.
- Não sei o que te dizer.
- Não diga nada. Querendo ou não eu sabia que um dia isso aconteceria. Tinha esperança de que eles nunca mais se reencontrassem, mas no fundo, sabia que isso era praticamente impossível. Ele é dela.
- E ela é dele.

(...)

- Me odiou tanto assim?
- Hoje te odeio muito mais.
- Mesmo sabendo das circunstancias?
- Isso não é desculpa, Guilherme! Se dizia que me amava, por que não me contou a verdade? Eu te ajudaria. Seria eu no lugar da sua noiva, te ajudando, do seu lado.
- Tive medo de te perder.
- Me perder? Não venha com essas frases ensaiadas, Guilherme! Você me perdeu com a sua escolha de não me dizer nada.
- Eu sei, Marcela. Mas eu tinha medo de te fazer sofrer. Te prender a mim. Queria te ver feliz e cuidando de um doente você não seria.
- Não decida o que seria felicidade pra mim, Guilherme! Felicidade pra mim é estar ao lado de quem se ama, cuidando, amando, fazendo o que fosse preciso pra nunca perder a pessoa que queria fazer feliz. Definição completamente diferente de felicidade pra você né? Preferiu mentir, me abandonar, me deixar louca sem saber de nada, sem saber o por que de você estar me deixando sozinha. Como acha que me senti?
- Eu sinto muito.
- Não, não sente. Quem sente muito, muitíssimo, sou eu.. Sinto muito de não ter sido boa suficiente pra você ao menos me falar a verdade e me querer ao seu lado mesmo doente.
- Isso não é verdade.
- Mas é assim que eu penso. A Jennyfer é muito melhor ne? Que bom que encontrou alguém que te vai fazer feliz.
- Só vou ser feliz com você, Marcela...
- E quando pensou nisso? Quando me viu naquele escritório? Quando pretendia me contar a verdade? Quando tivesse casado, com filhos? Vai pro inferno, Guilherme! Você me fez o maior mal que alguém poderia me fazer.
- Eu te amo, Marcela. A Jenny sabe disso, sempre soube que a mulher que eu amo não era ela, era você. Ela sabe da historia toda. E sabe também que agora que você sabe de tudo, não vou mais casar com ela.
- Não repita o mesmo erro, Guilherme. Não abandone outra pessoa que te ama.
- Eu amo você.
- Eu fiquei sozinha. Depois que você se foi, descobri que Flávio falou coisas pra você que não tinham sentido dele falar e você foi embora também pelo que ele disse. Brigamos feio e fizemos as pazes hoje. Desde aquele dia, há seis meses.
- E a Andréa e a Júlia?
- Foram embora. Me abandonaram, assim como você. Pelo menos tiveram a decência de se despedir. Mas me abandonaram.
- E o Paulo?
- Paulinho... o único que realmente valeu a pena na minha vida.
- Não fala isso, Cela...
- O único que estava comigo quando todos me viraram as costas. Depois que você foi embora, eu não consegui mais trabalhar, perdi meu emprego, ate hoje, estou aqui. Desempregada, sem você e sem amigos. Um ótimo final para alguém não acha?
- Não é o seu fim, Marcela.
- Pra mim é. Depois de tudo que soube hoje, pra mim chegou ao fim. Tudo.
- Me perdoa. Eu te amo, te quero, preciso de você comigo.
- Agora? Agora é tarde Guilherme. É tarde demais...
- Nunca é tarde pra quem se ama.
- Nunca é tarde pra quem se ama. Chega a ser engraçado te ouvir falar isso.
- Sei que esta magoada, triste, com raiva... mas também sei o tamanho do seu coração e o tamanho do amor que sente por mim, igual ao que eu sinto por você.
- Em seis meses muita coisa muda..
- Muita coisa muda, mas o amor não acaba, se verdadeiro, não acaba.
- Apesar de verdadeiro, você sabe muito bem que sim, o meu acabou por você acabou. Você machucou tanto ele, que ele morreu, assim como você pra mim.

Marcela deu as costas a Guilherme e foi andando, agora precisava de um lugar pra ela, um lugar que realmente fosse dela, lugar esse que ela ainda não havia encontrado.

- Marcela, vem aqui!

Ela o ouvia de longe, mas não pretendia voltar, não pra ele.

- Marcela! Eu te amo!

As lágrimas não paravam de escorrer pelo rosto de Marcela, ela tentava enxugar mais não conseguia, eram muitas.

- Não vou deixar que um erro de seis meses atrás faça nosso amor acabar assim.

Ele estava na frente dela, a segurando pelos braços, estava serio.

continua...

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