sexta-feira, 9 de abril de 2010

Enfim sós

- Garçom! Com licença! Você conhece uma garçonete ruiva?
- Claro que sim.
- Como ela se chama?
- Celinha..
- Celinha... Claro... Ela não usaria Marcela, seria fácil demais.
- O que disse senhor?
- Nada... Mas então... Onde posso encontrá-la?
- Celinha acabou de ir embora.
- Como?
- Disse que não estava passando bem, pediu ao gerente para sair mais cedo e se foi.
- Sabe onde ela mora?
- Não, senhor... Perdão, mas... Por que tanto interesse nela?
- Er... Er... Fiquei de lhe dar uma gorjeta, mas ela sumiu.
- Aqui somos proibidos de receber gorjetas, senhor.
- Ah, mas vocês nunca recebem?
- Ah... O senhor sabe. Quando o cliente insiste muito...
- Entendo. Quanto quer para me levar ate a Cela... Celinha! Quanto quer para me levar até a Celinha?
- Já falei pro senhor que não sei onde ela mora...
- Mas pode descobrir pra mim, não pode?

Guilherme depositara no bolso do garçom diversas notas de alto valor, discretamente.

- Me acompanhe, por favor.

Ele e o garçom foram até uma sala, afastada dos jogos ou do bar do cassino. Guilherme se sentou em um sofá negro e de aparência antiga, enquanto o garçom entrara em uma outra porta.

(...)

Marcela chegara em sua casa tão transtornada por quem havia visto que nem trancou porta, nem nada. Foi ao banheiro, lavar o rosto, tirar aquela maquiagem carregada. Tomou um banho rápido, escovou os dentes, trocou de roupa, colocando sua camisola branca de seda e voltou ao quarto. Ligou a televisão e se deitou na cama, pensativa.

(...)

Por mais alguns dólares o garçom levou Guilherme até o apartamento em que Marcela morava e se foi. Agora era com ele. Ele e ela.

Era um prédio simples, nem ao menos portaria tinha. Cada morador tinha a chave do portão e pronto, imaginou ele. Mas esse se tornara um problema. Como ele entraria se o portão estava fechado? Ou pelo menos era para estar, pensou ele ao perceber que estava apenas encostado.

- Obrigado, Deus!

Guilherme entrou no prédio, sem pressa, porém com cautela, nada o podia impedir de ver e falar com Marcela naquele momento. Nada, nem ninguém!
O apartamento de Marcela era o 203. Chegou na frente da porta e começou a ensaiar milhares de maneiras de falar com ela e principalmente de como fazer uma voz diferente da sua original para que ela o deixasse entrar, sem medo.
Estava nervoso. Encostou-se levemente na maçaneta e a sentiu girar, era muita sorte para um dia só. Sim, estava aberta.

- Que perigo, dona Marcela! Ainda bem que sou eu!

Entrou devagar, sem fazer barulho, ‘andando em ovos’, fechou e trancou a porta. Suspirou, respirou fundo, ofegou e foi caminhando pela casa. Chegou à cozinha e nada, ate a varanda, menos ainda, então foi indo até um lugar que imaginou que fosse um quarto.
A porta estava aberta, a televisão ligada, a luz de um abajur também, olhando de esgoela, pode ver pernas na cama, olhando melhor pode ver todo um corpo deitado e claro, aqueles inconfundíveis cabelos vermelhos esparramados em um travesseiro branco. Não pode deixar de ouvir também um soluço.

(...)

Marcela pensava, pensava e só conseguia chorar. Chorar de emoção por ter revisto seus amigos, ter visto Paulo tão cara a cara, mesmo sem tê-lo abraçado como seus instintos mandaram, ter visto, principalmente, Guilherme. Seu tão antigo e tão recente amor, que queria esquecer, mas não conseguia. Era muito mais forte que ela.

(...)

Levado por toda coragem que conseguira juntar, Guilherme entra no quarto. Não conseguia para de olhar para a moça que estava deitada. Se aproximou mais, e mais, até chegar ao lado da cama, podendo ver que ela estava de olhos fechados, com uma expressão dolorosa na face e com o rosto molhado, estava chorando. Aquela visão tão ímpar dela, só comprovou visualmente o que ele já sabia: Marcela! Havia encontrado Marcela.

- Marcela...

Marcela ouvira um sussurro. Estava sonhando, imaginava ela. Não havia ninguém ali, tinha fechado a port... A PORTA! Ela não havia fechado a porta! Se levantou de um pulo, sentando na cama e quase caindo deitada novamente quando seu olhar se encontrou com o que não parava de encara-la.

- O que... O que.. O que faz aqui? Quem deixou você entrar?
- Marcela, por que fugiu?
- Saia!
- Não posso acreditar que te encontrei.
- Não sei do que esta falando. Saia do meu apartamento ou chamarei a polícia!
- Teria coragem? De mandar me prender?
- Não o conheço, teria sim!
- Não precisa fazer esse teatro aqui. Você sabe que eu sei que é você. Não tem como esconder. Mesmo com os cabelos vermelhos, aquela roupa que usava no cassino, sua voz não me confunde, Cela. E seu rosto muito menos.
- Vá embora, Guilherme.

continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário