quinta-feira, 8 de abril de 2010

Nem tudo pode ser mudado

Dois meses haviam se passado desde a última e decepcionante conversa que Marcela tivera com Guilherme na Suíça. Após fugir dele, ela ficou vagando pelas desconhecidas ruas suíças, pois não tinha pra onde ir, não sabia pra onde ir. Precisava de uma vez por todas, definitivamente, se encontrar. Achar um lugar onde ela pudesse ser ela mesma, sem medo de nada, nem de ninguém. Um lugar em que ela pudesse ser plenamente feliz, em que ela pudesse respirar.
Sentou em um banco, em uma praça, uma bela praça, pelo que pode ver com seus olhos molhados por suas lágrimas de um amor definitivamente perdido. Pensou e pensou. Milhares de idéias malucas ou não passavam ligeiras em sua mente. Não sabia o que fazer ao certo. Em como deveria recomeçar. Apenas tinha uma certeza: recomeçar seria preciso. Sabia que uma importante etapa de sua vida havia terminado, mas também sabia que não era o fim de tudo, apenas um recomeço, pelo menos era no que pretendia acreditar até onde suas, quase esgotadas, forças pudessem chegar.
Las Vegas. Esse seria seu destino. Não podia voltar ao Brasil, por mais que amasse aquele país e por mais que sua vida estivesse enraizada nele, não poderia voltar. Teria que enterrar todo seu passado e pensar apenas em um futuro próximo que teria que alcançar e Las Vegas seria o lugar.

(...)

Um recomeço implica mudanças, algumas superficiais, outras profundas. Marcela resolvera que começaria por uma mudança superficial, simples, mas que a faria melhor e mais segura. Suas longas madeixas pretas, tinham sido substituídas por uma mediana e repicada cabeleira vermelha. Vermelho intenso, expressivo, forte e seguro. Em seu novo tom de cabelo era que Marcela resolvera começar a expressar sua verdadeira mudança: a mudança interior. Sua antiga maquiagem, cor de pele, só para realçar sua beleza, havia sido substituída também: agora a ruiva só andava com fortes tons na pele. Olhos marcados em preto, sempre! Maçãs do rosto, às vezes, em tons rosados, às vezes em tons dourados. Sua boca ganhara volume com batons em cores que iam do rosa bebê ao vermelho sangue, dependia do dia e de seu humor.
Marcela era uma nova mulher, havia decidido isso, assim que decidiu morar em definitivo na cidade dos cassinos.

(...)

Ao chegar a seu novo país, Marcela logo alugou um apartamento, pequeno porém aconchegante, e que estava dentro de suas economias. Após se instalar, fora procurar um emprego e não demorou muito até iniciar um trabalho noturno, em um conhecido e luxuoso cassino.
A vida de garçonete não era fácil, trabalhava muito, e o pior, na opinião dela, durante toda a noite e toda a madrugada, mas era um emprego bem recompensado e, na maioria das vezes, divertido.
Seu novo visual a ajudou a arranjar esse emprego. Junto com seu cabelo, agora vermelho, e sua maquiagem extravagante, roupas curtas e decotadas também faziam parte dela agora. Definitivamente era uma nova e muito mais bonita mulher.

(...)

O coração de Marcela estava saltitando, poderia ter passado anos, mas ela nunca esqueceria daquele tom suave ao mesmo tempo que rouco, pesado ao mesmo tempo que sexy, que, para ela, só uma pessoa tinha. Ela não queria acreditar, não podia ser ele. Não depois de tudo. Não ali, em Las Vegas!
Chegou a pensar que estava imaginando coisas, sonhando acordada com ele, coisa que costumava fazer sempre. Suava frio, estava apreensiva, mas alguma coisa lhe dizia que seu coração não se enganara ao pular descompassadamente ao som daquela voz.

- Moça? Não me ouviu?

Insistira Guilherme. A ruiva ao seu lado, que ele tinha certeza ser uma garçonete do local, havia passado um bom tempo parada de costas para ele e ele não entendera o por quê, apenas queria seu drink de maçã.
continua...

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