quinta-feira, 1 de abril de 2010

Agora sim a história tem um início.

‘Às vezes você se julga incapaz de seguir em frente. As pessoas a sua volta te dão as costas, mostrando que você esta sozinha. E o que fazer nesses momentos? Pra mim o ideal é se jogar numa cama limpa e macia e chorar. Chorar todas as magoas, todas as tristezas, chorar ate lhe faltar ar.

Estou sozinha. Minhas duas, melhores e únicas amigas não estão mais comigo. Meu maior amor também se foi. Tudo que eu queria era minha vida de volta. Tudo que eu queria era poder respirar outra vez.’

- Por que vão fazer isso comigo?
- Marcela, é preciso. É nosso futuro.
- E o meu futuro, por que ninguém pensa nele?
- Porque quem tem que pensar nele é você.
- Estou sozinha agora.
- Vamos voltar.
- E se lembrarão de mim quando isso acontecer?

Júlia e Andréa abraçam Marcela, sem receber um abraço de volta. Ambas dão um beijo de até logo na testa da morena, se viram, enxugam suas lagrimas e entram na sala de embarque.
Marcela estava desolada. Suas melhores amigas estavam indo viajar, uma viagem sem previsão de volta, à trabalho.
Pensou diversas vezes antes de recusar o convite de se juntar a elas, mas não podia. Não podia deixar o Brasil por um trabalho que nem seu era.
Suas raízes, sua historia estavam naquele país. E as lembranças de um grande amor também.

(...)

- Sou uma fracassada, Paulo.
- Não fale isso minha deusa morena.
- Não tenho emprego, não tenho as meninas comigo, não tenho ele.
- Tem a mim.
- Você, você que vive de baladas.
- Pode viver de baladas comigo.
- Não me agrada.
- Você precisa viver, Marcela.
- Como viver, sem ter comigo o que me fazia viver?
- Vai se entregar à dor que esta sentindo por três pessoas que infelizmente não estão mais aqui? E você? Você não vale algo?
- Sinceramente não sei.
- Pois eu lhe digo que vale. Vale muito, morena.
- Quero que more comigo, Paulinho.
- Sabe que não daria certo, Cela...
- Podemos tentar.
- Não é fácil viver com um gay.
- Você é gay, mas é meu amigo.
- Isso me lembra uma canção...
- Deixa de ser palhaço. Aceita minha proposta?
- Sinto dizer que não. Não quero transformar a sua vida, por minha causa.
- Será que não percebe que o que preciso é de uma transformação?
- Sim, percebo. Mas não desse tipo de transformação, Marcela! Você precisa querer viver. Querer ser feliz. Querer reconstruir tudo que lhe foi tirado.
- Fala dele?
- Também. Mas principalmente de seu emprego, novos amigos e aí sim um novo amor.

(...)

Marcela sempre fora uma garota de poucas e boas amizades. Em sua vida inteira, apenas cultivara cinco amizades verdadeiras, amizades que pretendia levar para a vida toda, mas a própria vida não lhe permitiu.
Desde adolescentes, Marcela, Andréa, Júlia, Guilherme, Flávio e Paulinho eram inseparáveis. Entre eles ocorreu tudo que poderia ocorrer entre adolescentes cheios de descobertas pela frente.

Andréa e Júlia sempre foram mais coladas, talvez pelo fato de serem primas e terem nascido e crescido juntas. Sempre ansiaram o desejo de morar fora e a inesperada oferta de trabalho em Londres, feita a Júlia fora o passo inicial para que esse desejo juvenil fosse convertido em realidade. Andréa não pensou duas vezes em dizer que iria para Londres com a prima e lá, com certeza seria um bom local para abrir sua loja de bolsas e sapatos, também, tão sonhada.
Júlia trabalhava como gerente de uma empresa de cosméticos e sua competência a levara a Londres.

Quando soube da viagem das amigas, Marcela se sentiu sem chão. Acabara de passar por uma perda incomparável. E suas amigas não pensaram nisso ao decidir viajar. Estava magoada, ressentida. Sabia que era o sonho das duas, mas acreditava que isso poderia esperar, ao menos um, dois ou mais meses, para que ela se recuperasse um pouco. Mas não, elas não estavam preocupadas com ela.

(...)

Flávio e Paulinho sempre foram os xodós de Marcela. Se preocupava com eles, mais do que se preocupava consigo mesma. Cuidava deles quando chegavam bêbados, lhes dava o ombro para chorarem seus amores que não haviam dado certo. Foi a ela que Paulo contou primeiro sobre sua homossexualidade e foi ela a pessoa que mais lhe deu apoio. Os fazia se desculparem um com o outro quando brigavam. Era como a mãe dos dois, mesmo sabendo que Flávio nutria uma certa paixão por ela. Haviam namorado quando ambos tinham 16 anos, mas o namoro não durou mais que três meses. Flávio era ciumento e não aceitava a amizade de Marcela com Guilherme, mesmo sendo amigo dele também.

Guilherme era com Marcela, exatamente, como ela era com Paulo e Flávio. Pra ele não existia garota mais frágil e que mais precisava de cuidados que ela. Era sua pequena protegida. Sua eterna protegida.

(...)

- Vou morar sozinha?
- Sempre morou morena!
- Mas nesse momento, não estou bem, Paulo!
- Por que não pede ao Flávio que te faça companhia?
- Sabe que não posso fazer isso.
- Não vão voltar a se falar?
- Não sei. Estou magoada.
- Marcela, como você mesmo disse. Está sozinha, carente, triste, sem amigos. Esta na hora de deixar esse orgulho de lado e voltar a falar com ele.
- Você esquece rápido das coisas né? Sabe que estou assim por culpa dele.
- Ele nunca superou.
- E eu também não vou superar o que ele me fez. Isso que ele queria? Estamos quites então.
- Deixe de teimosia. Você gosta dele.
- Claro que gosto. Ele é meu amigo.
- Por isso mesmo, não pode acabar com essa amizade assim.
- Flávio é um ingrato. Sempre quis o melhor pra ele. Ele me traiu.
- Não quer que eu dê minha opinião novamente quer?
- Não. Vou embora.
- Fique mais um pouco, morena. Deixe-me lhe contar do Gio.
- Hoje não quero saber das suas viadagens.
- Depois o Flávio que é o ingrato.
- Idiota. Mande-me um e-mail. Responderei prontamente.
- Você ta precisando de um homem, Marcela!

Marcela abaixa a cabeça, sente seus olhos úmidos.

- Sinto muito. Não medi as palavras. Me perdoe.
- Você tem razão. Um homem. Preciso, mas me tiraram o que eu mais queria.
- Pode ter outros.
- Quem? Flávio?
- É uma opção.
- Não quer que eu de minha opinião novamente quer?
- Não falarei mais disso com você, senhorita. Só quero vê-la feliz.
- E eu só queria achar um lugar pra mim.

continua...

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